Análise Gráfica

Queda no mercado de criptomoedas: entenda o que está por trás

Postado por em 21 de September de 2021 , marcado como

A forte queda no mercado de criptomoedas deixou os investidores agitados. Após passar 40 dias entre os R$230.000 e R$270.000, o mercado de criptomoedas está em queda e o Bitcoin cai cerca de 11% em 48 horas, e uma potencial crise no setor imobiliário da China é um dos principais motivos para esse movimento brusco que o mercado testemunhou.

Criptomoedas caindo: Gráfico indicando queda de 11% no Bitcoin

Criptomoedas caindo: Gráfico indicando queda de 11% no Bitcoin

A empresa Evergrande, uma das gigantes no ramo imobiliário na China, está em uma crise interna desde 2017, quando presenciou seu ápice e viu isso se refletir no preço das suas ações, que alcançaram o valor de 32 dólares de Hong Kong. 

Desde então, a empresa entrou em declínio, e consequentemente, sua ação sofreu uma desvalorização de 93%, sendo cotada hoje por volta de 2.30 dólares de Hong Kong. 

Gráfico da ação da Evergrande com desvalorização de 93% levou também a queda das criptomoedas

Gráfico da ação da Evergrande com desvalorização de 93% levou também a queda das criptomoedas

Evergrande: gigante chinesa abala os mercados e leva criptomoedas a queda

Mesmo sendo uma das baleias do mercado imobiliário, ela também é uma das mais endividadas, somando uma dívida de aproximadamente 1,3 trilhões de reais. 

O estopim da crise foi um relatório publicado na última terça-feira (14), no qual a empresa alertou seus investidores sobre diversos problemas graves no seu fluxo de caixa.

Aparentemente, a empresa não possui recursos suficientes para pagar as dívidas no prazo, e como o governo chinês se absteve da situação, a Evergrande está, para muitos, prestes a dar um “calote”.

À medida que o governo chinês desacelera seus investimentos em construções e em outros setores, o impacto é sentido lentamente, mas afeta diretamente o mundo, tendo em vista que é considerada a segunda maior economia do planeta.

Isso acende um alerta na cabeça dos investidores, que temem por uma nova crise, já que a última em 2008 foi desencadeada por exatamente o mesmo motivo. Uma espécie de “calote” imobiliário, mas ao invés de a incorporadora falir, quem faliu foi um tradicional banco americano, conhecido como Lehman Brothers.

Esse alerta foi sentido no gráfico do S & P500, o índice da bolsa americana (semelhante ao Bovespa) que só hoje registrou queda de -2,5%. 

Isso naturalmente faz com que os investidores diminuam sua exposição a ativos voláteis e busquem liquidez em moedas estáveis, como o dólar, com medo de um novo movimento de baixa. 

Junto com essa crise na China, o mercado aguarda ansiosamente a definição do FED sobre a remoção dos pacotes de estímulos que estão sendo injetados na economia desde o início da pandemia. Segundo o banco central dos EUA, à medida que a economia fosse se restabelecendo, os estímulos seriam gradualmente retirados. E segundo eles, a economia está melhorando. 

Na próxima sexta feira (24), às 11h da manhã em Brasília, saberemos qual será a posição adotada, através de uma conferência transmitida no canal oficial do FED no YouTube.

Em meio a isso, muitos analistas estão preocupados com a formação de um possível topo na bolsa americana presente no gráfico semanal. Isso pode ser o indicativo de uma correção que não é vista desde o “CoronaDay”, nome dado à corrida por liquidez que o mercado presenciou quando a pandemia foi “oficializada”.

Gráfico indicando possível topo no S&P500

Gráfico indicando possível topo no S&P500

O que isso tem a ver com Bitcoin? Por que as criptomoedas estão caindo?

Além do fator Evergrande, a queda das criptomoedas abala os investidores. Afinal, em meio a tudo isso, com a entrada de institucionais e a “popularização” das criptomoedas como um todo, quando o mercado tradicional ameaça uma possível baixa, há uma corrida por liquidez inclusive no universo cripto. 

Vários investidores de diferentes perfis buscam se defender, seja realizando lucro ou encerrando posições. O objetivo dessas pessoas é se dolarizar para que numa possível queda, consigam comprar mais barato futuramente.

Como sabemos, o BTC possui a maior fatia do mercado de cripto, sendo o principal responsável pelas movimentações de preço. Esse índice é medido pela dominância de mercado um dos fatores mais importantes para análise, que atualmente está em torno de 40%. 

Isso significa que 40% de todo o dinheiro que circula no mercado cripto está alocado em Bitcoin, e uma queda nas criptomoedas, especialmente no principal e mais seguro ativo cripto, causa uma queda ainda maior em projetos mais recentes e teoricamente mais frágeis como as altcoins.

Com isso em mente, analisando apenas o gráfico do bitcoin, conseguimos ter um panorama geral do mercado e analisar os impactos da queda das criptomoedas, mas é claro, há exceções.

Após perder uma LTA (linha de tendência de alta) – linha verde – que vinha sendo respeitada desde seu último fundo, o bitcoin entra em uma breve tendência de baixa, indicada pela seta vermelha no gráfico:

Criptomoedas caindo: Gráfico indicando rompimento de LTA

Criptomoedas caindo: Gráfico indicando rompimento de LTA

Observando o gráfico diário, conseguimos ver que o BTC se mantém acima de um suporte muito importante representado pela linha azul, que atuou no passado como uma resistência a ser quebrada num movimento de pullback (círculo vermelho), e elevou os preços ao patamar que estamos hoje.

Criptomoedas caindo: Gráfico indicando suporte principal e região de pullback

Criptomoedas caindo: Gráfico indicando suporte principal e região de pullback

Mesmo com o candle do dia 20 sendo bem expressivo, podemos notar que o BTC ainda respeita um “caixote” que funciona como um canal, e que se ele se manter dentro dele, a tendência de alta no médio/longo prazo se mantém, apesar das criptomoedas estarem caindo hoje e no curto prazo.

Criptomoedas caindo: Gráfico indicando canal de lateralização do preço

Criptomoedas caindo: Gráfico indicando canal de lateralização do preço

Apesar disso, analisando graficamente, podemos reparar que foram formados topos (setas vermelhas) e fundos (setas verdes) menores que os anteriores, um indicativo de início de tendência de baixa.

Criptomoedas caindo: Gráfico indicando topos e fundos cada vez menores

Criptomoedas caindo: Gráfico indicando topos e fundos cada vez menores

Assumindo que a tendência de alta do Bitcoin no longo prazo continue, podemos utilizar o fundo do dia 20/07 (R$155.000) e o topo do dia 07/09 (R$275.000), para traçar uma Retração de Fibonacci e identificarmos possíveis pontos de reversão.

  • alvo 0.5 de Fibonacci, cotado em R$ 215.000,00
  • alvo 0.618 de Fibonacci, cotado em R$ 200.840,00 (melhor alvo p/ entrada)
Gráfico com retração de Fibonacci traçada e seus possíveis alvos

Gráfico com retração de Fibonacci traçada e seus possíveis alvos

Estipulando que o novo “fundo” do BTC seja no alvo 0.618 de FIbonacci, em torno dos R$200.000, é possível traçar uma extensão de Fibonacci baseada em tendências para buscarmos alvos pós-correção: 

  • alvo 0.382 de Fibonacci, cotado em R$ 246.680,00
  • alvo 0.5 de Fibonacci, cotado em R$ 260.840,00
  • alvo 0.618 de Fibonacci, cotado em R$ 275.000,00
  • alvo 0.786 de Fibonacci, cotado em R$ 295.160,00
  • alvo 1.0 de Fibonacci, cotado em R$ 320.840,00
Gráfico com Extensão de Fibonacci traçada e seus possíveis alvos

Gráfico com Extensão de Fibonacci traçada e seus possíveis alvos

Como foi dito anteriormente, como o BTC tem uma boa parte do mercado para si, seu movimento leva junto as altcoins, que sofrem quedas muito mais acentuadas, devido ao  MarketCap infinitamente menor que o do Bitcoin. Ou seja, quem investe em altcoins sentiu a queda no mercado de criptomoedas de forma mais intensa. Falo mais sobre essa mecânica em outro artigo.

As altcoins que mais sofreram nas últimas 24h segundo o CoinGecko foram Tezos (XTZ), Osmosis (OSMO), Fantom (FTM), Harmony  (ONE) e Terra (LUNA). Todas essas criptomoedas apresentam uma queda na casa dos 20%, enquanto o BTC caiu 12%.

Moedas que mais desvalorizaram nas últimas 24h segundo o CoinGecko

Moedas que mais desvalorizaram nas últimas 24h segundo o CoinGecko

A Ethereum (ETH) chegou a ser negociada hoje na casa dos R$15.500, demonstrando uma fraqueza no campo das altcoins, onde o risco é maior. 

Para mostrar isso, utilizaremos o gráfico da dominância do BTC. Quando temos uma dominância em queda, temos a famosa “altcoin season” (temporada das altcoins), período onde as moedas alternativas performam melhor que o BTC no geral. 

Porém, quando temos uma dominância em alta, isso nos mostra o contrário: com esse movimento, as altcoins tendem a se valorizar menos que o BTC, quase como se o bitcoin subisse sozinho, enquanto as altcoins se mantivessem ou perdessem valor perante a ele. 

Esse movimento de alta na dominância do BTC indicado pela seta vermelha pode ser notado desde o dia 12/09, quando a dominância atingiu um suporte importante nos 40% – representado pela linha rosa – e assumiu uma tendência de alta logo em seguida.

Criptomoedas caindo: Gráfico da dominância do BTC indicando o fim da altcoin season e possível reversão no cenário

Criptomoedas caindo: Gráfico da dominância do BTC indicando o fim da altcoin season e possível reversão no cenário

Nesse momento de queda das criptomoedas, estar exposto ao BTC é mais vantajoso do que se expor em altcoins. Esse pode ser o final da altcoin season que estamos vivenciando desde março de 2021.

Como agir nessas horas de queda no mercado de criptomoedas?

Quando nos deparamos com movimentos desse porte e de forte queda no mercado de criptomoedas, o mais importante é manter a calma e não operar baseado em emoções nem achismos.

Não há maneiras de prever uma queda das criptomoedas, mas existem maneiras de se expor menos. Seguir o gerenciamento de risco em torno do capital é a mais importante delas, dessa forma você nunca terá mais dinheiro no mercado do que deveria, evitando stress e noites mal dormidas. 

Outro modo de se precaver dos riscos da queda no mercado de criptomoedas é fazer o rebalanceamento de carteira periodicamente, de modo que uma porcentagem do seu patrimônio cripto (geralmente 20%) esteja sempre dolarizado em Stablecoins como USDC, USDT, ou até mesmo BUSD. 

Dessa forma, quando o preço das criptomoedas cai repentinamente, é possível usar esse caixa disponível para fazer compras e melhorar o preço médio no ativo.

Fazendo rebalanceamento de carteira e mantendo uma parte sempre em dólar, o investidor sempre terá dinheiro para aproveitar quedas no mercado de criptomoedas, plantando sementes que podem se multiplicar no futuro, além de não ser pego de surpresa pelo mercado.

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